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domingo, 13 de abril de 2014

APRENDIZAGEM E MEMÓRIA


Quando chega a hora de prestar provas, alguns estudantes ficam perturbados com a sua falta de memória: «está mesmo debaixo da língua»; «não percebo o que aconteceu, esqueci tudo».
Muitas vezes, a memória falha, porque a aprendizagem foi feita sem motivação. Outras vezes,
falha, porque a aprendizagem foi feita sem método. Melhorando a motivação e o método, a memória ganha eficiência.
O método proposto é uma síntese de várias técnicas de estudo, baseadas na psicologia da aprendizagem. Consta de três etapas: captação, auto-avaliação e revisão.


1 Captação

A captação é a primeira etapa.
Ler um texto, ouvir um professor e observar a realidade são formas diferentes de captação.
Uma boa captação dos assuntos implica:
  • compreender, antes de decorar;
  • organizar as ideias;
  • relacionar os conhecimentos.
A memória tem de ser apoiada pela inteligência que compreende, organiza e relaciona.

1.1 Compreender

Há coisas que um estudante precisa de decorar como, por exemplo, o alfabeto, verbos de uma língua estrangeira, regras de gramática, expressões técnicas e fórmulas de Física ou Matemática.
Para decorar, existem várias técnicas. Alguns estudantes repetem a matéria em voz alta. Outros gravam fitas que ouvem mecanicamente. Outros ainda inventam cantilenas, artifícios, truques...
Tudo isto pode resultar, mas resulta por pouco tempo, se não existir compreensão da matéria que se pretende aprender.
Uma boa captação não é o simples registo mecânico dos assuntos, como se fôssemos gravadores de som e imagem. Só as coisas compreendidas entram na memória «a longo prazo».
Decorar sem compreender é uma técnica que deixa as coisas «presas por alfinetes». É, por isso, uma técnica muito falível, mesmo para quem deseja apenas aprender para «despejar» numa prova. A memória põe de lado o que não compreende e não considera útil.
O estudante que decora sem compreender faz um esforço inglório e desperdiça o seu tempo. Frequentemente «baralha» as coisas e nem sequer tem consciência dos erros que comete. Qualquer professor experiente vê, de imediato, que ele fez um «enchido», uma «acumulação mecânica» e não sabe aquilo que diz.
Antes de decorar, é necessário compreender a matéria, perceber o seu significado e a sua aplicação.

1.2 Organizar

Comecemos por uma simples experiência, com base em três listas de dez palavras cada.

Leia a lista A, uma vez. Agora, sem olhar a lista, escreva, por ordem, todas as palavras, numa folha de papel.
Em seguida, proceda do mesmo modo com a lista B e a lista C.
Compare os resultados.
Afinal, o que aconteceu?

  • É provável que se tenha lembrado de todas as palavras da lista A, pois constituem uma frase completa, um todo organizado.
  • Quanto à lista B, talvez tenha falhado alguma coisa. Trata-se de uma lista de palavras soltas, embora seja possível estabelecer uma certa ligação dessas palavras em torno da ideia-chave «supermercado» ou «compras».
  • Quanto à lista C, naturalmente os resultados serão menos satisfatórios, porque as palavras não têm, à primeira vista, qualquer ligação entre si.
Esta experiência mostra que a capacidade de aprender e recordar aumenta quando os assuntos são bem estruturados e fazem sentido. Memoriza-se melhor um todo ordenado do que fragmentos isolados. É por isso que os autores dos manuais se preocupam em arrumar bem a matéria, para que os estudantes a captem melhor.
A memória imediata e espontânea capta facilmente o que é simples e agradável. A memória ativa ou intencional obriga a pessoa a organizar e a arrumar as suas ideias, no «ficheiro cerebral», de modo a poder conservá-las.
Construir uma casa não é amontoar tijolos. Do mesmo modo, aprender não é amontoar ideias dispersas no cérebro, como se fosse um cofre qualquer. Aprender é saber «arquivar» os conhecimentos com organização.
Organizar as ideias implica, entre outras, duas condições básicas:
  • Descobrir e fixar a ideia-base, a regra ou o principio organizador da matéria. O cérebro guarda melhor as informações arrumadas em torno da ideia principal. De pouco vale o esforço, se não se capta o essencial.
  • Não perder de vista o todo. Quando a matéria é complexa ou em grandes quantidades, é aconselhável dividi-la em partes e captar uma de cada vez. Porém, não se deve perder a ligação de cada parte com o todo. Para tal, poder-se-á fazer uma rápida revisão da matéria já aprendida, antes de partir para novas aprendizagens.
1.3 Relacionar

Um bom processo de aprendizagem, que facilita a memorização, é relacionar a matéria nova com todos os conhecimentos já adquiridos.
Os conhecimentos inter-relacionados, integrados uns nos outros, tornam-se mais seguros. As aprendizagens novas não «voam» se forem amarradas às mais antigas. Daí a eficácia de situar a matéria nova no conjunto do que já conhecemos.
Não há disciplinas nem conhecimentos independentes. O saber é um todo, como o corpo humano é um todo. Aquilo que se sabe de uma disciplina pode servir para outra. Por isso, um estudante inteligente aproveita sempre os seus conhecimentos anteriores e a sua experiência para fundamentar novas aprendizagens. Perante uma nova matéria, um estudante inteligente reflete e relaciona: «isto faz-me pensar em...», «isto funciona como...», «isto opõe-se a...».
Por um efeito de transferência positiva, conhecimentos anteriores bem assimilados facilitam a captação e dificultam o esquecimento. Isto quer dizer que quanto mais sólidas forem as bases maior garantia existe de o aluno captar os assuntos de uma forma eficiente. Quem tem boas bases tem maiores facilidades.

2 Auto-avaliação

A segunda etapa do método para a memorização é a auto-avaliação. Depois da captação de uma determinada matéria (um capítulo, por exemplo), o estudante ganha se fizer uma auto-avaliação ou exame a si próprio para tomar consciência do seu saber e da sua ignorância. Porque há grande diferença entre saber e julgar que se sabe!
A auto-avaliação é um termômetro para medir a aprendizagem e uma bússola para orientar o estudo.

2.1 Medir a aprendizagem

Para medir o seu nível de aprendizagem, o estudante deverá fechar o livro ou o caderno de apontamentos e tentar reproduzir, de forma pessoal (mentalmente, em voz alta ou por escrito), o essencial do que assimilou. É sugerido três processos eficientes de auto-avaliação. O estudante poderá inventar outros ou escolher um destes:
  • Elaborar esquemas ou resumos e confrontá-los com o texto original.
  • Resolver os exercícios apresentados nos manuais e verificar as soluções. sempre que as houver.
  • Fazer perguntas a si próprio sobre os pontos mais significativos da matéria e redigir respostas claras e rigorosas. Escrever respostas permite verificar melhor o que se sabe e o que se ignora.


Para completar a auto-avaliação, o estudante poderá ainda preencher uma ficha deste tipo:



2.2 Orientar o estudo

A auto-avaliação (como a avaliação fornecida pelos professores, ao longo do ano) é uma bússola que ajuda a orientar o estudo, tornando-o mais eficiente. Várias experiências de psicologia atestam que uma pessoa, quando tem consciência do seu nível de conhecimentos, consegue uma aprendizagem mais rápida e profunda.O controle exato sobre a quantidade e a qualidade dos conhecimentos adquiridos permite os seguintes benefícios:
  • Estimular o interesse. Ao verificar que sabe, o estudante prova a alegria de saber e aumenta o interesse pelo trabalho. Satisfeito e estimulado, aprende melhor e dificilmente desiste antes de atingir a meta.
  • Corrigir pontos fracos. O estudante que conhece, a tempo, os seus pontos fracos, a matéria em que está «verde», pode remediar o problema com revisões ou novas tentativas de aprendizagem. Só quem conhece onde falhou e por que razão falhou tem hipóteses de corrigir os seus erros ou o próprio método de estudo.
  • Evitar surpresas. Através da auto-avaliação, o estudante adquire uma imagem mais objectiva de si mesmo e poderá evitar aflições ou surpresas desagradáveis. Quem sabe o que vale não anda enganado nem estranha a avaliação do professor.
3 Revisão

Ponhamos a hipótese de que o estudante fez uma boa captação dos assuntos (1ª etapa) e verificou, através de uma auto-avaliação rigorosa (2ª etapa) , que sabe a matéria obrigatória para a prova de avaliação do dia seguinte. Pode dormir descansado! No entanto, se voltar a precisar da mesma matéria um mês depois, que acontecerá? Para responder, basta que cada um de nós pense no seguinte: «da matéria estudada há um mês, que quantidade seria capaz de recordar agora?»
Sempre que existe um longo intervalo entre a aprendizagem inicial e as provas, podemos ser atraiçoados pelo esquecimento. Para combater o esquecimento, faz falta a revisão.
A revisão é a terceira etapa do método para uma boa memorização. Ela não serve para aprender; serve para reaprender.

3.1 O fenômeno do esquecimento

O esquecimento é um fenômeno natural que atinge todas as pessoas. «Não é um fenômeno negativo, um simples buraco na memória», como diz Gusdorf. De fato, há coisas inúteis que vale a pena esquecer. Mas há coisas fundamentais que gostaríamos de não esquecer e esquecemos.
Que motivos nos levam a esquecer? Será que o tempo decorrido depois da aprendizagem faz empobrecer e deformar as lembranças como faz amarelecer as fotografias? Hoje, os investigadores da memória negam que o tempo, por si só, seja responsável pelo fenômeno do esquecimento. Atribuem
o esquecimento às interferências provocadas por outras atividades e às motivações do indivíduo.

3.1.1 As interferências

Todos sabemos, por experiência própria, que aquilo que se aprende em último lugar está, em geral, mais fresco na memória do que a primeira matéria estudada. É natural que se saiba melhor a matéria aprendida há um dia do que a matéria aprendida há um mês.
Isto significa que as novas aprendizagens inibem a recordação das mais antigas. A aprendizagem de coisas novas pode interferir na conservação das antigas.
Por vezes, acontece a situação contrária. Lembra-se com mais facilidade um conhecimento assimilado há mais tempo do que uma matéria recente. Basta que esse saber antigo esteja bem estruturado, bem consolidado na memória.
Conclui-se, assim, que a recordação das coisas antigas e seguras pode interferir na aprendizagem das novas.
É vulgar dizer-se que o primeiro tipo de interferência explica o esquecimento dos mais jovens, enquanto o segundo tipo explica o esquecimento dos mais velhos. Há uma boa parte de verdade nisso, mas não se pode esquecer o papel dos factores afetivos.

3.1.2 As motivações do indivíduo

As motivações do indivíduo explicam grande parte dos esquecimentos. A memória recusa-se a trazer ao consciente assuntos indiferentes, neutros ou desagradáveis. «A memória está sempre às ordens do coração»—diz Rivarol.
Os factores afetivos (gostos, desejos, interesses) estão na base da aprendizagem e da memória. Aquilo que não desperta o nosso interesse aprende-se com dificuldade e esquece-se depressa.
Um exemplo pode ajudar a compreender o papel das interferências e das motivações do indivíduo. Imagine que, numa festa, você é apresentado a 10 pessoas desconhecidas. Depois de ouvir o nome de todas elas, naturalmente recordará dois ou três nomes. E que nomes conservou? Se todos os nomes lhe foram indiferentes, é provável que, por efeito das interferências, se lembre melhor dos apresentados em último lugar. Mas, se você simpatizou com alguma pessoa em particular, recordará o seu nome por mais tempo, independentemente do momento em que lhe foi apresentado. Pode lembrar o primeiro e o quinto e ter esquecido o último nome, que deveria estar mais fresco na memória. É o efeito das motivações do indivíduo ou dos fatores afetivos.

3.2 Como refrescar a memória

Não se pode confiar na memória humana como se confia na memória de um computador, que conserva todas as informações entradas até ordem em contrário.
A memória humana é seletiva. Guarda com vivacidade apenas os conhecimentos mais significativos para a pessoa, permitindo que a maior parte caia no «saco» do esquecimento.
Mas atenção: esquecer não significa perder completamente aquilo que se aprendeu. A prova está no facto de que reaprender é mais fácil e mais rápido do que aprender pela primeira vez. Se já um dia soubemos bem a matéria, basta uma nova passagem para fazer reviver os conhecimentos que julgávamos mortos.
Com revisões adequadas, reaviva-se o aprendido. Refresca-se a memória. Reduz-se a percentagem dos esquecimentos.

3.2.1 Número de revisões

Vários investigadores, entre os quais se destaca Ebbinghaus, estudaram a velocidade do processo de esquecimento. Concluíram que o esquecimento é mais rápido logo que termina a aprendizagem. Depois, vai desacelerando à medida que decorre o tempo, até que esquecemos quase por completo.
Assim, as revisões devem ser periódicas e adequadamente espaçadas para conseguirem travar a velocidade do esquecimento.
A quantidade e os intervalos dos exercícios de revisão variam consoante o indivíduo e a matéria. Se o estudante deseja conservar um conhecimento para poder usá-lo pela vida fora, terá de revê-lo mais vezes.
Um bom esquema de revisões é o seguinte:

  • Revisão inicial - uma revisão logo a seguir à captação é muito eficaz, porque ajuda a clarificar as ideias e a consolidar a aprendizagem. Uma recapitulação rápida da matéria, antes de pôr os livros de parte, fortalece a retenção.
  • Revisões intermédias - podem ser feitas uma semana ou um mês depois da aprendizagem e têm por finalidade reavivar a matéria esquecida. Uma matéria super-aprendida (aprendida e revista várias vezes) fica mais segura e aprofundada. Quando mais se repete mais se aperfeiçoa.
  • Revisão final - é a recapitulação geral dos tópicos essenciais, feita no próprio dia ou na véspera das provas. Mesmo os alunos que só estudam «à última hora» devem guardar uns minutos para a revisão final.
3.2.2 Processos de revisão

Para rever conhecimentos, servem dois processos: 
  • Praticar o aprendido. O processo mais eficiente para manter vivos os conhecimentos é usar a matéria e fazer exercícios práticos, sempre que possível (exemplos: a conversação em línguas estrangeiras e a resolução de problemas em Física e Matemática). Praticar é a melhor forma de não esquecer.
  • Reler o essencial. O estudante, quando trabalha com método, faz sublinhados e anotações nos livros e, além disso, elabora apontamentos, onde regista o essencial da matéria. Para rever, sobretudo na altura das avaliações, basta reler o que antes se selecionou. Ler tudo de novo seria perda de tempo.
REVISÃO:

  • Tente compreender, antes de decorar.
  • Descubra e fixe a ideia-base das várias informações que deseja reter.
  • Nunca perca de vista o todo, mesmo que tenha de dividir a matéria em partes para estudar melhor.
  • Relacione a matéria nova com todos os conhecimentos já adquiridos. Amarre o novo ao antigo.
  • Utilize a auto-avaliação para medir o seu nível de aprendizagem e orientar o estudo.
  • Faça revisões periódicas para reavivar os conhecimentos.
(Extraído do livro APRENDER A ESTUDAR - António Estanqueiro)





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